Instituto Superior Técnico usa IA para desvendar enigmas de Pompeia
Um projeto com financiamento europeu usou inteligência artificial (IA) e robótica para juntar milhares de pedaços de dois frescos de Pompeia, disse à Lusa um investigador do Instituto Superior Técnico (IST).
Nuno Ferreira Duarte disse que o projeto de quatro anos teve como ponto de partida os "milhares de peças" dos frescos da cidade romana de Pompeia que os arqueólogos foram descobrindo.
"A questão é que há muitos deles que não se sabe como é que se há de reconstruir. As pessoas estão há séculos a tentar resolver estes puzzles. Já conseguiram alguns, mas nem todos", explicou o especialista em robótica.
O projeto procurou "desenvolver modelos" de IA que replicam as técnicas usadas pelos arqueólogos para juntar os fragmentos dos frescos, "mas olhando para as milhares de peças que lá estão", referiu Duarte.
Em vez de substituir os humanos, sublinhou o investigador, o objetivo é ajudá-los, ao "automatizar alguns mecanismos, que são repetitivos e monótonos," a fazer um "trabalho minucioso, laborioso e longo".
O projeto, coordenado pela Universidade Ca' Foscari de Veneza (Itália), reuniu o Instituto Italiano de Tecnologia, a Universidade Ben-Gurion de Negev (Israel), a Universidade de Bona (Alemanha), o IST e o Parque Arqueológico de Pompeia.
O especialista em robótica disse que o IST ajudou a desenvolver as duas "mãos" – cada uma de dimensão diferente – que o robot, pendurado do teto de um dos armazéns de Pompeia, usou para manusear os frágeis fragmentos dos frescos.
O projeto, que recebeu financiamento de 3,52 milhões de euros da União Europeia (UE), conseguiu "construir alguns puzzles, neste caso, ainda de escala pequena", admitiu Duarte.
De acordo com a UE, o projeto RePAIR, sigla em inglês para "Reconstruir o Passado: Inteligência Artificial e Robótica", restaurou dois frescos, que "estavam em milhares de pedaços partidos e em armazéns".
Os arqueólogos estimam que 15 a 20 por cento da população de Pompeia morreu durante a erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C., principalmente devido ao choque térmico provocado pela gigantesca nuvem de gás e cinzas que cobriu a cidade.
As cinzas vulcânicas enterraram Pompeia, preservando perfeitamente casas, edifícios públicos, artefactos e até residentes da cidade romana, até à sua descoberta no final do século XVI.
Duarte, investigador do Instituto de Sistemas e Robótica, que faz parte do IST, falou à Lusa em Macau, onde esteve a apresentar o projeto numa conferência internacional.
O projeto terminou no final de outubro mas Duarte disse que "o feedback é muito positivo" e que, nas instituições envolvidas, "toda a gente tem bastante interesse" em procurar novo financiamento para prosseguir a iniciativa.
"A ideia é ter o robot a tentar resolver os puzzles mais difíceis, ao mesmo tempo que os humanos se concentram nos que seriam de maior interesse para o público ou aqueles com peças pequenas demais", explicou o investigador.
Mas Duarte admitiu que "neste momento ainda é muito prematuro estar a imaginar qualquer robot atualmente a conseguir manipular os fragmentos sem supervisão".
"É preciso ainda uma evolução" da tecnologia para permitir ao sistema "ter noção da força" aplicada a peças, que podem ser frágeis, e "perceber se as peças estão a escorregar ou se estão a tocar na pintura", disse o especialista.
Duarte defendeu ainda que uma solução de IA e robótica que funcione em Pompeia pode ser utilizada de forma "bastante transversal" em sítios arqueológicos em outras partes do mundo.